quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

A semente e a árvore

Refletindo sobre o exterior dos homens e das sociedades:

O tegumento é a casquinha que protege as sementes.
Após a morte da semente, a casquinha dilacera-se para o desenvolvimento do embrião, nascendo a plantinha. Essa casquinha foi sacrificada e transformou-se em alimento para a semente.

Quando nascemos da carne, isto é, quando nascemos da vontade dos nossos pais biológicos, nascemos com uma casquinha fininha e com o instinto natural de agradar (ou desagradar no caso dos mais rebeldes) ao mundo exterior. Assim rapidamente nos habituamos a viver para o homem exterior, a aparência, o estilo, a moda, a cultura, o estatuto social, ser aceite nos círculos de pessoas que escolhemos, etc. Este modo de vida pode simbolizar-se como sendo o engrossar do tegumento, ou seja, alimentar a casquinha que representa a nossa personalidade individual (ou "ego") e cobre a semente.
Que semente? Está escrito assim: "O Reino de Deus está dentro de vós". Essa semente é o Reino do Pai Celestial.

Ora, qual será a utilidade de engordar o tegumento se não fôr para alimentar uma semente?
Pois bem, para que a semente nasça temos que sacrificar a casca, dilacerá-la para darmos vida à semente divina e que se desenvolverá em nós quando nos convertemos e deixamos de viver para o exterior passando a concentrar esforços para alimentar a nova criatura dentro de nós.

Que nova criatura é esta? É como a mulher grávida. A sério!
É preciso engravidar de Deus e cuidar durante algum tempo da gravidez para garantir que se dará à luz em boa hora e prevenir para que não haja aborto!

Assim, quando o novo ser nasce a pessoa torna-se filho de Deus e o velho ser funde-se com o novo, sendo que o velho representa o mundo exterior e é da carne enquanto o novo representa o Reino de Deus e é do Espírito.

Isto não significa que perdemos a nossa identidade ou aquilo que nos diferencia ou nos faz únicos; Não, significa sim que a nossa individualidade única se expressará pelo facto de que é a "roupa" que cobria a semente e agora está a vestir a nova criatura.

Quando alimentamos a semente que Deus pôs dentro do coração da nossa alma estamos a investir nas asas que nos permitirão voar quando vier a enchente! Brincadeira? Não.

Se a casquinha não morrer a semente não nasce!

Porém o alimento para que essa semente se transforme numa árvore frondosa abundante em frutos e cheia de vida, preparada para esticar os ramos em direcção ao céu para a glória de Deus, é a dilaceração dessa casca, o sacrifício do eu.
E essa casca são todas as coisas materiais e imateriais que satisfazem a nossa carne e subjugam as coisas espirituais.

Por isso é que está escrito "morri para o mundo". E noutro lugar "quem ama o mundo faz-se inimigo de Deus."
Parece exagero? Extremismo?

Bem, pelo menos não é algo que se oiça normalmente nem em telenovelas, nem em filmes ou séries, nem se lê em jornais de grande tiragem ou na conversa habitual no café ou no refeitório... pois não.

Mas qualquer pessoa sincera que consiga reverter a mente ao estado "de humildade de criança" mantendo todo o conhecimento e sabedoria que adquiriu vai ser obrigado a admitir que o mundo em que vivemos está em muito mau estado... quer em temos de hábitos da sociedade quer em termos da própria natureza.
Claro que há muitos bons exemplos! Claro que não é tudo trevas e podridão. Existe a amizade entre os amigos, o amor entre os familiares, dentro do casal, a beleza de uma nova vida, aqueles locais de beleza natural exuberante, etc..

MAs é por isso que está escrito que não convém amar o mundo... devido a esta corrupção inerente ao mundo que nas sociedades mais modernas e ricas se esconde por baixo de glamour dos carros e roupas novas, e por baixo das viagens e férias para estâncias em locais exóticos, por debaixo da imprensa main-stream que evita discutir precisamente os assuntos que mais tocam no íntimo de cada um: casamento, família, espiritualidade, auto-estima. Mas nos países menos ricos a corrupção da sociedade não é escondida... é exarcebada! Visível e espampanante.

E é por isso mesmo que é nestes locais onde o tegumento está mais deteriorado e onde a corrupção destrói mais o aspecto exterior das pessoas e das cidades que os ensinamentos do Mestre se tornam mais bem recebidos e melhor aplicados.
É nestes países como o Brasil e África onde os testemunhos de Novos Nascimentos de indivíduos e às vezes famílias inteiras se tornam chocantes!
Chocantes para as sociedades ricas onde tudo é belo no exterior e a corrupção se esconde no interior.
Nas sociedades onde a corrupção é evidente é onde a graça de Deus se manifesta mais fortemente.
E está escrito "onde abunda o pecado superabunda a graça"
Mas também diz "ai de vós que como túmulos caiados estais limpos por fora mas por dentro cheios de corpos em decomposição".

Nada pior que a hipocrisia.

Por isso eu, pessoalmente, tenho esperança de ver os países onde o tegumento da sociedade é mais desprezável tornarem-se em lindas novas sociedades exemplares para todos.
Será um Brasil onde abunda a corrupção que verá morrer essa casca podre para nascer uma bela e frondosa árvore cheia de frutos e onde pousam os mais belos pássaros?
Será Angola? Moçambique?

Tal e qual como a Noruega, Suécia, Dinamarca, Holanda etc eram os países onde viviam os povos mais bárbaros, os povos mais ignorantes, mais brutos e embrutecidos, onde não havia lei nem ordem como em Roma, nem como já haviam no Sul da Europa e Norte de África. Nesse países de corrupção e brutalidade foi onde os ensinamentos do Mestre foram melhor recebidos e até muito recentemente ainda se pagava 10% de todo o lucro para as igrejas locais, foi nesses países que morreu a casquinha e nasceu a semente de sociedades organizadas, limpas e eficientes. Exemplares em muitos aspectos.

E a nossa casquinha é para enrijecer ou para morrer?